11 de mai. de 2011

São Sebastião: comunidade participa de audiência pública

Pré-Audiência do IFB colhe sugestões da comunidade de São Sebastião para a implantação do futuro Campus

Por Francisco Neri

O processo de discussão dos cursos profissionalizantes e tecnológicos que serão implantados pelo Instituto Federal Brasília em São Sebastião teve início na última terça-feira (05/05), com a realização de uma Pré-Audiência no Centro de Ensino Médio 01 (Centrão), às 19h, na qual professores e coordenadores do IFB apresentaram a instituição à comunidade.

De posse do catálogo de cursos atualmente ofertados pelo Instituto, os diversos segmentos sociais e demais participantes foram divididos em dez Grupos de Trabalhos para debaterem as propostas de cursos apresentados. Os cursos estavam dispostos por eixos tecnológicos e cada grupo ficou incumbido de selecionar três eixos, relacionando até três cursos, seguindo a lógica do mais prioritário para o menos prioritário. Ao final, cada grupo elegeu um coordenador para apresentar a escolha dos eixos que, por sua vez, foram entregues aos representantes do IFB.

Os dez coordenadores dos Grupos de Trabalho ficaram responsáveis por se reunir posteriormente para discutirem as dez propostas apresentadas na pré-audiência e elaborarem uma carta ao reitor do IFB, apresentando as diretrizes norteadoras da escolha dos cursos para São Sebastião.

Os Grupos de Trabalhos se reuniram no último sábado (07/05) para definir os Eixos Tecnológicos, por ordem de prioridade, do mais prioritário para o menos prioritário. A definição dos eixos. A discussão foi muito positiva e respeitou o levantamento das propostas feitas pelos GTs na ocasião da Pré-Audiência. Quem mais ganha com isso, sem dúvida, é a comunidade, que teve vez e voz para sugerir propostas de cursos técnicos para a cidade. Após a definição dos eixos, os coordenadores elaboraram uma carta na qual foram anexadas sugestões dos cursos apontados pelos grupos.

Intensa mobilização e participação popular marcaram a Audiência Pública

Com a presença de aproximadamente quinhentas pessoas, a Audiência Pública promovida pelo Instituto Federal Brasília, nesta terça (10/05) às 19h no Centrão, teve a participação expressiva dos movimentos sociais de São Sebastião, da comunidade, dos estudantes do CEM 01 (Centrão) e do CEM São Francisco (Chicão), além de representantes do Ministério Público, Ministério da Saúde e da Administração Regional.

A assembleia teve por objetivo ouvir a comunidade e oportunizar o debate na escolha do Eixos Tecnológicos e Cursos a serem ofertados no futuro Campus do IFB em São Sebastião, conforme a apreciação dos Grupos de Trabalho, sistematizadas e acordadas pelos coordenadores de cada grupo constituído quando da pré-audiência. A relação de Eixos Tecnológicos definidos pelos GTs na carta entregue a reitoria do IFB foi a seguinte:

Eixo Tecnológico 01: Ambiente, Saúde e Segurança
Curso 01: Enfermagem
Curso 02: Farmácia
Curso 03: Meio Ambiente

Eixo Tecnológico 02: Informação e Comunicação
Curso 01: Manutenção e Suporte
Curso 02: Telecomunicações
Curso 03: Informática

Eixo Tecnológico 03: Produção Cultural e Design
Curso 01: Rádio e Televisão
Curso 02: Publicidade
Curso 03: Produção de Áudio e Vídeo

Eixo Tecnológico 04: Gestão e Negócios
Curso 01: Administração
Curso 02: Recursos Humanos
Curso 03: Cooperativismo

Eixo Tecnológico 05: Infraestrutura
Curso 01: Desenho de Construção Civil
Curso 02: Edificações
Curso 03: Saneamento

Eixo Tecnológico 06: Recursos Naturais
Curso 01: Agricultura
Curso 02: Agronegócio
Curso 03: Zootecnia

Eixo Tecnológico 07: Hospitalidade e Lazer
Curso 01: Idiomas – Inglês/Espanhol (sugestão)
Curso 02: Recepção/Produção de Eventos (sugestão)
Curso 03: Cerimonial/Protocolo (sugestão)

Eixo Tecnológico 08: Controle e Processos Industriais
Curso 01: Manutenção Automotiva
Curso 02: Refrigeração e Climatização
Curso 03: Eletroeletrônica

Eixo Tecnológico 09: Produção Alimentícia
Curso 01: Panificação
Curso 02: Confeitaria
Curso 03: Agroindústria

Eixo Tecnológico 10: Apoio Educacional
Curso 01: Biblioteconomia
Curso 02: Secretaria Escolar
Curso 03: Multimeios Didáticos

Eixo Tecnológico 11: Produção Industrial
Curso 01: Impressão Gráfica
Curso 02: Móveis
Curso 03: Vestuário

Representantes da cultura, artistas e músicos, Conselho de Saúde, Fórum de Entidades Sociais, Produtores Rurais, Projeto ABÁ, Projeto Vida Padre Gailhac, Centro de Educação Popular de São Sebastião, Movimento SuperNova, Fórum de Crianças e Adolescentes e muitos outros, durante a Plenária, defenderam, dentre os onze eixos temáticos elencados, aqueles que consideraram prioritários para São Sebastião. Os eixos de 1 a 6 foram apontados como mais essenciais, levando-se em consideração a grande demanda por cursos técnicos para jovens e adultos e ainda a viabilidade do IFB implantá-los em curto prazo na região, tendo em vista que o processo de liberação da área para a construção do Campus está em trâmite junto à Administração Regional, Terracap e demais órgãos competentes.

O professor Elias Vieira de Oliveira, novo diretor do Campus Brasília, fez vários esclarecimentos à comunidade, a começar por dizer que o IFB não se confunde com uma universidade, posto que a instituição trabalha com a formação de tecnólogos (licenciatura) e não com a de bachareis. Todavia, informou ele, o objetivo maior é contribuir para o desenvolvimento do processo educacional do País com a formação de profissionais altamente qualificados e comprometidos com a profissão que exercem. Oliveira parabenizou os participantes pela capacidade de mobilização e participação num evento tão importante para a comunidade. Em seguida, apresentou os representantes e coordenadores do IFB e elogiou a iniciativa dos professores Glauco Vaz Feijó e Paula Petracco, responsáveis pela realização da audiência na cidade.

“O IFB é uma rede federal de ensino e pretende ser reconhecida como Instituição Pública Federal de excelência em Ensino, Pesquisa e Extensão no âmbito da Educação Profissional e Tecnológica”, afirmou o diretor. Sobre a escolha do curso de enfermagem pela maioria dos participantes, Elias Vieira esclareceu que o curso de formação nessa área possivelmente não seja viável, mas garantiu que o Conselho de Diretores dos institutos federais irá deliberar a possibilidade de se implantar o mesmo curso em nível técnico.

Por fim, o diretor assegurou que todas as propostas deliberadas na Audiência serão levadas para discussão em outras instâncias, sendo uma delas o Conselho de Diretores do IFB, os quais darão relevância aos estudos técnicos realizados pelo IBGE, Ministério Público, Administração Regional, e ainda as contribuições/sugestões dadas pela comunidade. Com isso, busca-se que os cursos sejam pleiteados de forma democrática e transparente, de acordo com aquilo que se entende como essencial e viável para a comunidade do ponto de vista da demanda, da empregabilidade e da profissionalização dos moradores de São Sebastião.

Ainda segundo Elias Oliveira, a intenção é que o IFB, a partir de junho, abra inscrições para alguns dos cursos selecionados, os quais possivelmente serão realizados em escolas ou outros locais a serem definidos, enquanto o Campus estiver em fase de construção.
Descentralização e democratização do ensino: direitos fundamentais de todos e passaportes para a inserção no mercado global.

Foi com grande satisfação que a comunidade de São Sebastião recebeu a proposta de implantação de um Campus do IFB aqui. Enche-nos de orgulho e de esperança saber que há a possibilidade concreta de termos em nossa cidade uma unidade do Instituto Federal Brasília, uma conquista há muito tempo alimentada por jovens, adultos e moradores em geral.

Em tempos de mudanças tão céleres no campo do conhecimento científico e tecnológico e em face dos grandes marcos brasileiros que temos pela frente, a exemplo da Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas de 2016 e a descoberta do Pré-sal, cabe perfeitamente nos perguntarmos se de fato estamos preparados para tamanhas exigências.

A nossa população, muito jovem em sua maioria, porém de garra e de um potencial notadamente elevado para a produção cultural independente e para a labuta diária, para trabalhar e estudar precisa se deslocar (com toda a precariedade e carestia do monopolista sistema de transporte que se perpetua há décadas por aqui e que cogita o aumento de tarifas em breve) cotidianamente para a região metropolitana de Brasília ou para seus longínquos arredores, onde os "tentáculos do desenvolvimento" se firmaram e onde concentram as cadeias produtivas do primeiro e segundo setores da economia, além de faculdades, universidades, órgãos e instituições públicas e privadas.

Implantar uma unidade do IFB em São Sebastião, para além da pura oferta de cursos nas áreas prioritárias, de modo a atender antigas demandas, significará, sem dúvida, a promoção de um direito de todo e qualquer cidadão brasileiro, que é justamente a descentralização e a democratização do ensino técnico e tecnológico, a nível do DF e por que não, nacional. Mais do que isso, significa garantir aos nossos jovens a qualificação profissional concomitante ou complementar aos que adentram ou que concluíram o Ensino Médio e ainda para àqueles que já conquistaram o diploma, mas para os quais a porta estreita do mercado de trabalho continua fechada.

A iniciativa do IFB nos traz a oportunidade de sonharmos com dias melhores para nossos trabalhadores e trabalhadoras e nos encoraja na luta pela reversão emergencial dos dados apontados pela recente pesquisa realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), segundo a qual 69% das empresas industriais brasileiras ainda padecem com a falta de profissionais qualificados, um problema que atinge principalmente as empresas de menor porte. Em outras palavras, estamos falando de cerca de 90% do setor produtivo de Brasília que, diga-se de passagem, será uma das cidades-sede do Mundial de Futebol de 2014.

Outro dado apontado pela Fundação Getúlio Vargas e que merece especial atenção é o fato de que a chance de quem concluiu algum curso de ensino profissionalizante conseguir emprego é 48,2% maior do que a de quem estudou somente até o Ensino Médio ou é formado em curso de licenciatura.


Portanto, em nome da universalização da educação, foi muito louvável por parte de o Governo Federal anunciar, na semana passada, a criação de oito milhões de vagas, até 2014, na Educação Profissional para estudantes do Ensino Médio.

Mais do que nunca em toda a história da humanidade, estudar é preciso, e buscar alternativas que garantam a empregabilidade e a incessante capacitação/atualização profissional dos nossos trabalhadores se mostra como grande desafio para garantirmos espaço no mar bravio e imprevisível do mercado global. Para garantirmos a entrada e navegarmos sossegados por terras nunca dantes navegadas, qualificação e competitividade são passaportes altamente requisitados.