16 Novembro 2010
Com o objetivo de fortalecer a troca de saberes e aproximar cada vez mais o universo acadêmico da comunidade em geral, o Centro de Educação Popular de São Sebastião foi palco, na semana passada durante os dias 10, 11 e 12 de novembro, das oficinas de mosaico, cinema alternativo, hortas suspensas e massagem anti-stresse– atividades que aconteceram na programação da X Semana de Extensão da UnB (Semex).
Na quarta-feira (10/11), das 8 da manhã ao meio dia, aconteceu a oficina de cinema alternativo. Um seleto grupo de 50 adolescentes, atualmente atendidos pelo Projeto Vida Padre Gailhac e pelo Projeto Sons de Cidadania, acompanhados pelo educador Francis, assistiu ao documentário “Nascidos em bordéis”. Produção de estréia dos diretores Ross Kauffman e Zana Briski (Índia, 2004), o filme explora situações de completa degradação social dos filhos e filhas de prostitutas.
O filme é o mais triste relato da história de crianças que vivem abandonadas no bairro da Luz Vermelha de Calcutá, onde a infância parece mesmo não mais existir para elas, a não ser depois que uma professora de fotografia abraça e adota a realidade delas, oferecendo-as ao, mesmo tempo, a oportunidade de verem a si mesmas a partir de um novo foco, agora através das lentes fotográficas.
Após o filme, várias questões foram levantadas sobre temas como pobreza, trabalho infantil, qualidade de vida, bullying, violência e direitos da criança e do adolescente, auto-percepção e desvelamento, dentre outros. Os coordenadores do Centro de Educação Popular Francisco Neri e Idácia Ferreira, além das auxiliares Eva e Glaucivânia, conduziram um gostoso e acalorado bate-papo com a garotada.
Na parte da tarde, das 14 às 17h, foi a vez de receber a oficina de mosaico. Unindo arte e consciência ecológica, Luciana, aluna de engenharia florestal da UnB, trouxe uma proposta de trabalho de extrema relevância para a conscientização de crianças e jovens de São Sebastião: a arte do mosaico desenvolvido com resíduos de plantas do cerrado (folhas, gravetos, sementes, galhos, raízes), mostrando que, de forma lúdica, também é possível aprender a identificar e preservar a enorme variedade de árvores, o tipo de vegetação e entender um pouco mais sobre o nosso ecossistema local.
Os alunos do Projeto Vida e do Sons de Cidadania estavam presentes novamente e se envolveram bastante com a atividade, cujo início se deu com uma breve apresentação, na qual cada pessoa deveria dizer o nome de sua planta preferida do cerrado. O objetivo era que cada um montasse algo utilizando material orgânico como forma de despertar uma maior consciência ambiental. Daí por diante, curiosidade e criatividade rolaram soltas. A professora distribuiu o material e deixou que a imaginação dos pequenos artistas brotasse.
Colando sobre cartolina ou papelão, folhas secas, raízes, pedaços de troncos, pó vegetal e cascas diversas, foram criados uma série de mosaicos, todos a partir do material orgânico colhido por Luciana no campus da UnB poucas horas antes de se deslocar até São Sebastião para ministrar a oficina. Sem dúvida, este contato tão íntimo que todos mantiveram com a natureza, tornou evidente o quanto as nossas relações harmônicas com o próprio meio que vivemos nos tornam mais humanizados e conscientes, fazendo-nos repensar o modelo de vida que adotamos para nós , para as presentes e futuras gerações, enfim, para nossos filhos e filhas.
Na quinta-feira (11/11), o CEPSS teve a honra de receber os alunos da Brinquedoteca de São Sebastião, que estavam acompanhados pelos professores Jeferson Du Prado, José Neres e Paulo Henrique.Por motivos de força maior, os organizadores da X Semana de Extensão não conseguiram professor para ministrar a oficina de miçangas, a qual deveria acontecer nesta data, como antes havia sido divulgado. Enquanto a oficina não começava, os alunos aproveitaram para conhecer as instalações do CEPSS e ver um pouco dos trabalhos artísticos resultantes de projetos como o "A cor do Saber", "Tecendo Arte" e "Afoxé".
Para não dispensar o público que já havia sido convidado muito antes, os coordenadores do CEPSS, que não são responsáveis pela Semana de Extensão, mas tão somente por divulgar e recepcionar as atividades no espaço da ONG, os mesmos solicitaram com urgência a realização de outra atividade.
Foi escolhida, então, a oficina de hortas suspensas, dada a importância de tal prática nos grandes centros urbanos no que se refere ao incentivo de ações voltadas a uma vida alimentar mais saudável e a um meio ambiente mais puro e limpo. Ministrada por Pedro, estudante de engenharia florestal da UnB e integrante do Grupo Tupã (Turma Unida Pro-Agricologia), o objetivo da oficina era oferecer noções básicas sobre educação socioambiental, promover a saúde e o cultivo de plantas, mesmo para quem não dispõe de muito espaço, caso das pessoas que residem em apartamentos, por exemplo.
E a ideia era mesmo construir canteiros suspensos de forma simples e que fosse viável em qualquer ambiente, tomando por base a plantação de hortaliças (alface, coentro, couve, cebola), ervas e plantas de raízes não muito profundas. Para tanto, foram utilizadas garrafas pet, cortadas em diversos formatos, dependendo do tamanho da horta que cada um queria fazer. "É muito báscio, pessoal. Todos podem fazer em casa e assim contribuir para um ambiente mais saudável e sustentátvel", informou Pedro.
Ao falar sobre a importância da Semana de Extensão, Pedro foi bem enfático ao afirmar que, atualmente, o denominado tripé da Universidade (Ensino, Pesquisa e Extensão) ainda meio falho. “A Universidade precisa formar pessoas e levar o programa de extensão para além do espaço acadêmico, até porque não faz o menor sentido alguém passar anos e anos absorvendo conhecimento científico e no final das contas não ter como repassá-lo adiante”, comentou.
Depois de plantarem várias sementes nas hortas feitas de garrafa pet, os alunos, bastante envolvidos com a oficina, participaram de dinâmicas, momento especialmente apropriado, onde puderam se divertir e ao mesmo tempo aumentar o conhecimento sobre as espécies nativas do cerrado e sobre a importância da preservação dos recursos naturais. Para finalizar a oficina, Pedro sugeriu mais uma dinâmica, “a do espiral da vida”.
Com o grupo reunido numa roda bem apertada e onde todos puderam sentir bem de perto a contagiante energia do calor humano, ele chamou um voluntário ao centro e o cumprimentou, apertando-lhe a mão em gesto de espiral. E assim, um a um foi convidado a ir ao meio do círculo. Uma a uma, as mãos foram formando o grande ciclo da vida.“Assim é a vida: todos dependemos de todos, nada nesse universo funciona se não estiver em constante equilíbrio com o eu, com o outro e com o próprio universo. Somos interdependentes e intercomplementares”, enfatizou Pedro.
Na sexta-feira (12/11), o CEPSS recebeu os professores Godoy e Cirlene para ministrarem a oficina de massagem anti-stresse, das 14 às 17h. Mente sã, corpo são, aforismo que já se dizia em tempos que remetem à Grécia Antiga. Atendendo a um público mais adulto, o objetivo era proporcionar o relaxamento muscular e aliviar um pouco a tensão que aflige principalmente quem trabalha no dia-a-dia com muito peso, ou no trânsito infernal dos grandes e ruidosos centros urbanos ou mesmo aqueles que passam horas intermináveis em frente a um computador.
A massagem consistia basicamente de movimentos feitos a partir de pontos onde geralmente é grande o acúmulo de tensões (costas, pescoço e ombros), massageando-se a coluna com movimentos circulares com as mãos abertas, de baixo para cima, sem muita pressão. Depois, braços, tronco, abdômen em sessões que variavam de 15 a 25 minutos. Além dessas técnicas, muitas outras foram utilizadas por Godoy e Cirlene, profissionais que, apesar de apresentarem baixa visão, mostraram aos participantes que a ausência de um ou mais sentidos não representa, em hipótese alguma, obstáculo para fazermos aquilo que realmente queremos e que mais gostamos na vida. Que exemplo!
Quem se presenteou com este momento zen e de intenso e prazeroso relaxamento e descanso para o corpo, certamente saiu com as energias inteiramente revigoradas e preparado para cair no mundo para mais uma batalha contra a fadiga e o stress diários, dois apenas dos maiores vilões quando o assunto são as incontáveis doenças modernas. Bom para as mulheres do curso de corte e costura do CEPSS que marcaram presença e não perderam a oportunidade de relaxar um pouco e mandar para o espaço as tensões e energias negativas.
Para o CEPSS, trazer atividades como estas para São Sebastião, mais do que consolidar vínculos com a Universidade, significa também deixar as pessoas daqui e de fora ao corrente do trabalho que é realizado pela entidade nos seus quase quinze anos de existência. Registrem-se aqui os nossos agradecimentos aos professores que ministraram as oficinas, às coordenadoras da Semana de Extensão Leocádia e Juliana e finalmente a todos que puderam participar das atividades, que fizeram da nossa semana uma semana diferente do ponto de vista da troca de conhecimento e da rica e profícua combinação entre teoria e prática. Parabéns a todos!
Fotos e texto: Francisco Neri
Confira fotos e mais detalhes em http://www.cepss.org.br/
"Quem sabe faz na hora, não espera acontecer"
